A maneira mais fácil e também mais desonesta de contestar opiniões que 
divergem das nossas é tentar desacreditá-las. Tal procedimento, além de 
torpe, é prejudicial à elucidação de questões que muitas vezes envolvem 
interesses fundamentais. Isso ocorre frequentemente quando estão em jogo
 problemas políticos e ideológicos, o que dificulta o entendimento de 
problemas vitais para o país.
Faço essas considerações porque 
acredito que uma das funções do jornalismo é informar e contribuir para o
 esclarecimento das questões de interesse público.
Eu, que 
militei no Partido Comunista Brasileiro, convencido de que o marxismo 
era o caminho para a construção de uma sociedade fraterna e justa, 
deixei de acreditar nisso em consequência das experiências que vivi e do
 próprio fracasso daquele projeto revolucionário em nível nacional e 
internacional.
Já tive oportunidade de manifestar minha opinião 
sobre esse fato, mas, qualquer que seja o diagnóstico, a verdade é que o
 grande sonho da sociedade proletária se desfez definitivamente. Há, 
porém, os que não desistem de suas convicções e há também os que se 
aproveitam da boa-fé das pessoas para substituir o sonho socialista pelo
 que intitulo de "populismo de esquerda", que se constata hoje em alguns
 países da América Latina, como Venezuela, Bolívia, Argentina, Equador e
 Brasil.
Em cada um desses países, o tal populismo assume uma 
forma específica, mas em todos eles o discurso ideológico substitui a 
luta da classe operária contra a burguesia pela luta dos pobres contra 
os ricos, que Lula apelidou de "elite branca".
Esse populismo se 
caracteriza, de um lado, por programas assistencialistas e, de outro, 
por um discurso anticapitalista que, como no caso do Brasil, é só para 
inglês ver, uma vez que seus principais sócios são grandes empresas. A 
operação Lava Jato revelou à opinião pública brasileira a extensão do 
"conluio" montado pelo governo populista, em aliança com empresários, 
para saquear a Petrobras e outras empresas estatais.
A ação desse
 populismo de esquerda no governo do país é a causa principal da 
situação caótica a que o Brasil foi arrastado nestes quase 13 anos de 
gestão petista. O Programa Bolsa Família, montado com objetivo 
eleitoral, se atenuou a carência de famílias miseráveis, em vez de 
resolver o problema da pobreza, estimula uma grande massa de 
trabalhadores a não mais trabalhar.
Por outro lado, o programa 
Minha Casa, Minha Vida constrói conjuntos residenciais muitas vezes em 
lugares inacessíveis e de péssima qualidade (muitos deles já estão 
caindo aos pedaços). Também, neste caso, a troca de interesses deixa as 
construtoras à vontade para usarem o material mais barato e construírem 
de qualquer forma, já que o governo não as fiscaliza, pois são todos 
amigos.
O aumento das famílias atendidas pelo Bolsa Família 
–calculado em mais de 30 milhões– e os gastos com o programa Minha Casa,
 Minha Vida podem ser a razão que levou Dilma a violar a lei de 
responsabilidade fiscal, tomando empréstimo de bancos públicos sem 
condições de ressarci-los.
Quando Aécio Neves, na campanha 
eleitoral, denunciou o estado crítico das finanças do país, ela o chamou
 de mentiroso e garantiu que a situação das contas era ótima. Ganhou as 
eleições e logo começou a fazer o contrário do que afirmara. Mas o 
desastre dos governos petistas não se limita aos gastos demagógicos e à 
corrupção. Atinge a estrutura econômica do país, anulando-lhe o 
crescimento e provocando desemprego e inflação.
Aliando demagogia
 e incompetência, os petistas deram pouca atenção aos Estados Unidos e à
 Europa – parceiros comerciais importantes do Brasil– e voltaram-se para
 o mercado sul-americano –o Mercosul. Para agravar nossa situação 
econômica daqui para diante, os Estados Unidos e o Japão montaram uma 
aliança comercial que representa 40% do comércio mundial e da qual 
estamos fora. E fora também estaremos de outra aliança, que incluirá os 
norte-americanos e os europeus.
Nisso é que dá atraso ideológico somado a incompetência.
Ferreira Gullar 

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