Lixo acumulado em frente ao Museu do Amanhã, um dos novos cartões postais construídos para os Jogos Olímpicos
Entidades
divulgam documento pedindo ao governo que priorize os investimentos em
saneamento básico
O Instituto Trata
Brasil e a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical divulgaram esta semana um
documento em que relatam a situação crítica do saneamento básico no Brasil e a
preocupação com a manutenção dos investimentos na área. O texto, assinado pelos
presidentes das entidades, Édison Carlos e Marcus Lacerda, lembra que 35 milhões
de brasileiros ainda não têm acesso à água tratada e que mais da metade da
população não tem coleta de esgotos. De acordo com o documento, é preciso
estimular a melhoria de eficiência no setor e as parcerias entre empresas
públicas e privadas.
Eis a íntegra do
documento:
A Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, fundada em 1962, que tem entre os seus
compromissos apoiar os órgãos públicos e particulares envolvidos no
enfrentamento e controle de doenças tropicais, e o Instituto Trata Brasil,
criado em 2007 com a missão de contribuir para a melhoria da saúde da população
e a proteção dos recursos hídricos do país através da universalização do acesso
aos serviços de água tratada, coleta e tratamento dos esgotos, bem como a
redução das perdas de água, vêm a público apresentar posicionamento para a grave
situação do saneamento básico no Brasil e a necessidade premente de
enfrentamento do problema pelo novo Governo Federal que se apresenta.
Contexto:
A situação do
saneamento básico no Brasil é vergonhosa. Podemos dizer que, de todas as mazelas
sociais e ambientais do país, talvez nada se compare ao descomunal impacto à
natureza e ao cidadão causado pela ausência da infraestrutura mais elementar –
serviços regulares de água tratada e de coleta e tratamento dos esgotos. Dados
do Ministério das Cidades (base 2014) mostram que ainda temos cerca de 35
milhões de brasileiros sem acesso à água tratada, mais da metade da população
não tem acesso à coleta dos esgotos e somente 40% dos esgotos do país são
tratados antes de serem lançados na natureza. Significa que 60% de todo o esgoto
do país segue para fossas, rios, lagos, reservatórios, bacias hidrográficas e
aquíferos da forma como sai dos nossos banheiros. É um volume equivalente a 5
mil piscinas olímpicas de esgoto por dia sendo jogado irresponsavelmente na água
que depois temos que trata para beber. No semiárido brasileiro temos milhares de
crianças, alunos e professores, sem sequer um banheiro, situação degradante que
prejudica qualquer bom aprendizado.
A frustrante falta
de serviços regulares de saneamento básico está por toda parte, dos bairros mais
nobres às favelas mais carentes, dos bairros regulares aos aglomerados
desprovidos da maioria de serviços públicos essenciais e fixados em terrenos de
propriedade alheia de forma desordenada e densa.
Apesar do
crescimento econômico e da transferência de renda dos últimos anos, o Censo do
IBGE mostrou que mesmo nas áreas urbanas com ruas definidas e lotes regulares
temos mais de 5 milhões de moradias com esgotos lançados a céu aberto, o que
corresponde a 11% do total das habitações e quase 20 milhões de brasileiros
expostos de forma direta a condições ambientais e de saúde muito degradantes.
Esse mesmo quadro é vivenciado a décadas na Região Norte onde menos de 10% da
população possui acesso à coleta de esgotos e as doenças se proliferam numa
total irresponsabilidade de prefeitos, governadores e do Governo Federal. O
Nordeste também representa um desafio, pois menos de 25% possuem coleta de
esgotos.
Embora essa
constatação seja evidente, bem como os impactos ambientais e sociais de
comunidades inteiras não terem acesso à infraestrutura mais básica como os
serviços regulares de água e esgotos, muito pouco se avançou nas últimas décadas
para que tenhamos uma solução definitiva dessa situação. É comum vermos o
lançamento dos esgotos em fossas rudimentares, na rede de água de chuva, nos
rios e riachos, nas praias ou em valas a céu aberto. E a população está cada vez
mais exposta a surtos de várias doenças, principalmente as crianças menores e os
idosos, e ultimamente somos submetidos severamente às epidemias transmitidas
pelo Aedes aegypti e outros mosquitos vetores, que se aproveitam do
quadro sanitário caótico para proliferarem-se ainda mais.
É com base no
cenário, na extrema preocupação com a falta de saneamento básico e na busca por
melhores condições ambientais e de saúde para a população brasileira que o
Instituto Trata Brasil e a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical expressam
os seguintes posicionamentos:
– Estamos atentos às
mudanças significativas no quadro político e gostaríamos de reiterar a
prioridade total de investimentos em saneamento básico, para que não se perca os
avanços dos últimos anos;
– Sabemos que a
continuar avançando em saneamento na velocidade atual, não chegaremos à
universalização dos serviços no prazo de 20 anos (ano de 2033) estipulado pelo
PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico. Isso mostra a necessidade de
acelerarmos os investimentos e estimular as parcerias entre as próprias empresas
públicas e essas com a iniciativa privada;
– Temos ciência de
que várias áreas da infraestrutura nacional precisam de investimentos, mas
entendemos ser essencial priorizar as que agregam qualidade de vida da
população, em especial a água tratada, coleta e tratamento dos
esgotos;
– Estamos
preocupados, pois a falta de saneamento básico traz grandes impactos na saúde
pública, na mortalidade infantil e nas doenças da infância, mantém surtos de
doenças históricas (diarreias e outras gastrintestinais) e colabora na
proliferação dos focos de Dengue, Zika e Chikungunya;
– Não temos visto
avanços no atendimento e nas políticas públicas voltadas ao saneamento básico
nas áreas rurais, áreas isoladas, indígenas, quilombolas, entre outras, e isso
representa riscos graves à saúde destas populações;
– Assistimos
indignados à ineficiência de grande parte da operação de água e esgotos do país
e as enormes perdas de água potável nos sistemas de distribuição, o que drena
recursos e reduz a disponibilidade de água para milhões de
habitantes;
As entidades pedem,
portanto, ao novo Governo Federal:
– Prioridade
absoluta à manutenção e, se possível, ampliação dos recursos financeiros para o
saneamento básico;
– Desburocratização do acesso aos recursos de forma a acelerar os investimentos;
– Criação de estímulos à melhoria da eficiência no setor de saneamento;
– Indução, via recursos, de soluções regionais em saneamento básico;
– Estímulo às parcerias entre empresas públicas e entre públicas e privadas;
– Aperfeiçoamento dos mecanismos de regulação do setor de saneamento
– Desburocratização do acesso aos recursos de forma a acelerar os investimentos;
– Criação de estímulos à melhoria da eficiência no setor de saneamento;
– Indução, via recursos, de soluções regionais em saneamento básico;
– Estímulo às parcerias entre empresas públicas e entre públicas e privadas;
– Aperfeiçoamento dos mecanismos de regulação do setor de saneamento
Édison Carlos Presidente
Executivo Instituto Trata Brasil
Marcus Lacerda Presidente SBMT
Marcus Lacerda Presidente SBMT
Fonte: Projeto Colabora
Nenhum comentário:
Postar um comentário