A estranha narrativa da
consciência negra
Quem
conhece São Paulo sabe que uma das principais vias da cidade é a rua Teodoro
Sampaio, que começa na Dr. Arnaldo (centro), e termina em Pinheiros na rua
Fernão Dias. Entre suas principais afluentes estão a Oscar Freire, a Henrique
Schaumann e Avenida Faria Lima. O que quase ninguém sabe é que o engenheiro,
geógrafo, escritor e historiador brasileiro Teodoro Fernandes Sampaio, que
dá nome ao logradouro, era negro. Filho de um padre e de uma escrava, foi
levado ainda cedo para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde cursou a
engenharia. Já adulto, voltou a Bahia e comprou a alforria da mãe e dos irmãos.
Atuante em São Paulo, foi um dos Fundadores da Escola Politécnica da USP e
do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. A rua que leva seu nome
tem como uma de suas vias a Avenida Rebouças, uma homenagem ao engenheiro Andre
Rebouças. Junto com seu irmão (também engenheiro) Antonio Pereira Rebouças
Filho, foi responsável pela construção da estrada de ferro que liga Curitiba à
Paranaguá. Por acaso, os Rebouças também eram negros, e se engajaram na causa
abolicionista. André Rebouças era o mais politizado. Monarquista, acompanhou a
família imperial para o exílio, e morreu em Portugal por afogamento.
Não se fala desses
personagens nas escolas, e nas universidades eles foram esquecidos. Há outros
ainda, como o advogado Luiz Gama, o linguista, médico e professor Ernesto
Carneiro Ribeiro, que entre outras proezas, foi professor de Rui Barbosa e
reviu o Código Civil de Clóvis Beviláqua em apenas quatro dias. Não se lembra
do médico psiquiatra Juliano Moreira ou do Visconde de Jequitinhonha. Mesmo
José do Patrocínio pouco é citado. Por quê?
Esses
personagens que tanto fizeram por si e pelo país não são lembrados pelos
escribas atuais pelo simples fato de que suas vidas não podem ser
instrumentalizadas pelos planos políticos da esquerda. Como é possível
sustentar que negros precisam de cotas nas universidades para quem conhece
Teodoro Sampaio? A esquerda prefere ensinar sobre Zumbi, Pelé e Mano Brown.
É
evidente que o indivíduo Zumbi não pode ser julgado com base nos valores
modernos. Ele era um homem de seu tempo, e na época não havia um conceito de
direitos humanos que determinasse que seres humanos não devem ser privados de
sua liberdade. No entanto, fica claro que a obsessão por esse personagem que
jamais lutou por liberdade tem um claro viés político. Os demais personagens
aqui citados agiram como cidadãos respeitáveis, defendendo valores conservadores
e acima de tudo, conquistaram seu lugar na sociedade com mérito próprio. A
esquerda odeia a meritocracia pois ela nega o princípio da igualdade natural do
homem. Sendo assim, qualquer indivíduo grandioso como esses senhores será
desqualificado pela gauche. Dirão se tratar de um caso isolado que não reflete
a realidade.
Muito se
fala sobre a necessidade de ensinar a história da África nas escolas, sobre
valorizar o legado cultural do negro. Isso é válido. Mas quando se vê quem se
propõe a lutar por esse resgate, se nota que são vozes que no fundo só se
interessam em promover a agenda política da esquerda. Uma história da África
baseada na realidade seria muito bem-vinda para que houvesse uma compreensão
maior da história do Brasil e de sua formação cultural e sociológica. No
entanto o que se propõe é apenas panfletagem ideológica visando o revanchismo.
Se essas figuras ilustres são apagadas do ensino, imagine o que acontecerá com
a história africana contada por professores marxistas? Quem já teve o desprazer
de ler o livro de história para o colegial de Guilherme Boulos (isso mesmo, o
do MTST), verá com que habilidade surpreendente ele transforma as revoltas
liberais do Império em lutas de classe pelo socialismo. E não é o único. Essa
turma sempre encontra uma maneira de afirmar que o socialismo é uma luta
continua da humanidade e caminho natural da história. Pode ser que transformem
a história africana em algo tão tenebroso quanto a Revolução Cultural de Mao
Zedong (tenebroso para quem é minimamente lúcido, eles acham Mao veem em um
exemplo de virtude).
O negro é
sempre tratado com a condescendência, como se suas alternativas estivessem
limitadas ao esporte ou ao show business. Como esse é o caminho de uma ínfima
minoria, só restariam mais duas alternativas: a marginalidade ou a mão do
Estado, sendo que a primeira se dá pela opressão capitalista e a segunda é
fruto da bondade da esquerda, que por meio do assistencialismo oferece uma
tábua de salvação sem a qual o negro morreria de fome ou seria um criminoso.
Tal qual um animal, o negro precisa de seus redentores brancos para ser um
quase cidadão. Esse pensamento é reforçado sobretudo nas periferias, onde os
ideólogos represam a ascensão social ao transformarem esses locais em currais
humanos. Lá se ensina artesanato com garrafa PET, capoeira e hip hop. Nada
disso será útil para que o negro ingresse em uma universidade, ou tenha um
futuro digno como empreendedor.
A
intenção também não é essa. Se o negro for ensinado que é capaz, que outros
iguais a ele ou em piores condições superaram obstáculos muito piores e
triunfaram em suas vidas, o indivíduo verá que não precisa da bondade da
esquerda para nada. É por isso que não se comemora o Dia da Abolição da
escravatura, mas sim o Dia da Consciência Negra. A Esquerda trata negros como
gado, reivindica monopólio sobre suas conquistas. É por isso que quando um
negro conservador ou liberal se manifesta, é logo atacado pela gauche
inconformada com quem se acha homem o suficiente para não precisar dela. É por
isso que partidos de extrema-esquerda como o PT vendem falácias do
tipo"negro consciente vota Dilma". Essa estranha narrativa da
consciência negra tem que acabar, para que não se caia no erro descrito por
Jomo Kenyatta que é abraçar o comunismo por comida. Esse grande personagem
africano, herói da independência do Quênia, é sempre apagado da história do fim
do colonialismo europeu. Com razão, visto que era anticomunista ferrenho. O seu
diagnóstico para os povos africanos foi certeiro: "o comunismo é tão ruim
quanto o imperialismo".
http://blogreaca.blogspot.com.br/2015/11/a-estranha-narrativa-da-consciencia.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário