segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A estranha narrativa da consciência negra

A estranha narrativa da consciência negra







Quem conhece São Paulo sabe que uma das principais vias da cidade é a rua Teodoro Sampaio, que começa na Dr. Arnaldo (centro), e termina em Pinheiros na rua Fernão Dias. Entre suas principais afluentes estão a Oscar Freire, a Henrique Schaumann e Avenida Faria Lima. O que quase ninguém sabe é que o engenheiro, geógrafo, escritor e historiador brasileiro Teodoro Fernandes Sampaio, que dá nome ao logradouro, era negro. Filho de um padre e de uma escrava, foi levado ainda cedo para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde cursou a engenharia. Já adulto, voltou a Bahia e comprou a alforria da mãe e dos irmãos. Atuante em São Paulo, foi um dos Fundadores da Escola Politécnica da USP e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. A rua que leva seu nome tem como uma de suas vias a Avenida Rebouças, uma homenagem ao engenheiro Andre Rebouças. Junto com seu irmão (também engenheiro) Antonio Pereira Rebouças Filho, foi responsável pela construção da estrada de ferro que liga Curitiba à Paranaguá. Por acaso, os Rebouças também eram negros, e se engajaram na causa abolicionista. André Rebouças era o mais politizado. Monarquista, acompanhou a família imperial para o exílio, e morreu em Portugal por afogamento.

Não se fala desses personagens nas escolas, e nas universidades eles foram esquecidos. Há outros ainda, como o advogado Luiz Gama, o linguista, médico e professor Ernesto Carneiro Ribeiro, que entre outras proezas, foi professor de Rui Barbosa e reviu o Código Civil de Clóvis Beviláqua em apenas quatro dias. Não se lembra do médico psiquiatra Juliano Moreira ou do Visconde de Jequitinhonha. Mesmo José do Patrocínio pouco é citado. Por quê?

Esses personagens que tanto fizeram por si e pelo país não são lembrados pelos escribas atuais pelo simples fato de que suas vidas não podem ser instrumentalizadas pelos planos políticos da esquerda. Como é possível sustentar que negros precisam de cotas nas universidades para quem conhece Teodoro Sampaio? A esquerda prefere ensinar sobre Zumbi, Pelé e Mano Brown.

É evidente que o indivíduo Zumbi não pode ser julgado com base nos valores modernos. Ele era um homem de seu tempo, e na época não havia um conceito de direitos humanos que determinasse que seres humanos não devem ser privados de sua liberdade. No entanto, fica claro que a obsessão por esse personagem que jamais lutou por liberdade tem um claro viés político. Os demais personagens aqui citados agiram como cidadãos respeitáveis, defendendo valores conservadores e acima de tudo, conquistaram seu lugar na sociedade com mérito próprio. A esquerda odeia a meritocracia pois ela nega o princípio da igualdade natural do homem. Sendo assim, qualquer indivíduo grandioso como esses senhores será desqualificado pela gauche. Dirão se tratar de um caso isolado que não reflete a realidade.

Muito se fala sobre a necessidade de ensinar a história da África nas escolas, sobre valorizar o legado cultural do negro. Isso é válido. Mas quando se vê quem se propõe a lutar por esse resgate, se nota que são vozes que no fundo só se interessam em promover a agenda política da esquerda. Uma história da África baseada na realidade seria muito bem-vinda para que houvesse uma compreensão maior da história do Brasil e de sua formação cultural e sociológica. No entanto o que se propõe é apenas panfletagem ideológica visando o revanchismo. Se essas figuras ilustres são apagadas do ensino, imagine o que acontecerá com a história africana contada por professores marxistas? Quem já teve o desprazer de ler o livro de história para o colegial de Guilherme Boulos (isso mesmo, o do MTST), verá com que habilidade surpreendente ele transforma as revoltas liberais do Império em lutas de classe pelo socialismo. E não é o único. Essa turma sempre encontra uma maneira de afirmar que o socialismo é uma luta continua da humanidade e caminho natural da história. Pode ser que transformem a história africana em algo tão tenebroso quanto a Revolução Cultural de Mao Zedong (tenebroso para quem é minimamente lúcido, eles acham Mao veem em um exemplo de virtude). 

O negro é sempre tratado com a condescendência, como se suas alternativas estivessem limitadas ao esporte ou ao show business. Como esse é o caminho de uma ínfima minoria, só restariam mais duas alternativas: a marginalidade ou a mão do Estado, sendo que a primeira se dá pela opressão capitalista e a segunda é fruto da bondade da esquerda, que por meio do assistencialismo oferece uma tábua de salvação sem a qual o negro morreria de fome ou seria um criminoso. Tal qual um animal, o negro precisa de seus redentores brancos para ser um quase cidadão. Esse pensamento é reforçado sobretudo nas periferias, onde os ideólogos represam a ascensão social ao transformarem esses locais em currais humanos. Lá se ensina artesanato com garrafa PET, capoeira e hip hop. Nada disso será útil para que o negro ingresse em uma universidade, ou tenha um futuro digno como empreendedor. 

A intenção também não é essa. Se o negro for ensinado que é capaz, que outros iguais a ele ou em piores condições superaram obstáculos muito piores e triunfaram em suas vidas, o indivíduo verá que não precisa da bondade da esquerda para nada. É por isso que não se comemora o Dia da Abolição da escravatura, mas sim o Dia da Consciência Negra. A Esquerda trata negros como gado, reivindica monopólio sobre suas conquistas. É por isso que quando um negro conservador ou liberal se manifesta, é logo atacado pela gauche inconformada com quem se acha homem o suficiente para não precisar dela. É por isso que partidos de extrema-esquerda como o PT vendem falácias do tipo"negro consciente vota Dilma". Essa estranha narrativa da consciência negra tem que acabar, para que não se caia no erro descrito por Jomo Kenyatta que é abraçar o comunismo por comida. Esse grande personagem africano, herói da independência do Quênia, é sempre apagado da história do fim do colonialismo europeu. Com razão, visto que era anticomunista ferrenho. O seu diagnóstico para os povos africanos foi certeiro: "o comunismo é tão ruim quanto o imperialismo".


http://blogreaca.blogspot.com.br/2015/11/a-estranha-narrativa-da-consciencia.html

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