quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O mito do feromônio desmascarado

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Vende-se de tudo na televisão. Uma das coisas mais “interessantes” são os chamados “feromônios”, hormônios que, segundo a propaganda, faria qualquer mulher (ou homem, dependendo do gosto e da utilização) cair doidinha por você. Assim, enganadores metidos a perfumistas vendem cosméticos prometendo atração fatal para qualquer um que dê uma cafungada em você. Muitos pesquisadores assumiram que certos produtos bioquímicos desencadeariam tais comportamentos no sexo oposto, por meio de respostas comportamentais e endócrinas. Acontece que estes agentes nunca foram identificados quimicamente; são os chamados “feromonas”. O que isso significa? Que não há nenhuma prova sequer que tais substâncias existam, não se sabe qual seria sua composição teórica nem como se daria as reações bioquímicas que propiciariam. Resumindo: Feromônios são engôdo, besteira e pseudociência!

Em 1962, os endocrinologistas Alan Parkes e Hilda Bruce publicaram um artigo na Science que a “endocrinologia floresceu magnificamente nos últimos 40 anos; e a exocrinologia está prestes a florescer”. O pai da sociobiologia, Edward Osborne Wilson (1929 – ), sugeriu a possibilidade de que “os feromônios são, num sentido especial, os ancestrais lineares dos hormônios” em 1972, num artigo da Scientific American. Até Alex Comfort, autor do best-seller de 1970 “The Joy of Sex” (A Alegria do Sexo), afirmou em um artigo da Nature que os feromônios eram passíveis de existir nos seres humanos. Desde então, uma série de estudos tem implicado os feromonas em muitas atividades de mamíferos, incluindo o sexo, comportamento materno, luta, nidificação, e ao reconhecimento de membros da própria espécie. Feromonas têm sido usados como método de argumentação sobre os mecanismos para acelerar o início da puberdade, gravidez e picos hormonais em uma variedade de mamíferos, embora nunca ninguém identificou os agentes envolvidos.

Em humanos, os feromônios têm sido considerados os responsáveis pela influência do comportamento sexual, o humor, a duração do ciclo menstrual etc. Em 2000, dezenas de tipos de perfumes e loções pós-barba continham feromônios (ou, pelo menos, os publicitários diziam que tinham), contribuindo para uma indústria multibilionária. Mesmo assim, em 2005, a questão de saber se os seres humanos têm feromônios foi listado pela Ciência entre as 100 principais perguntas sem resposta científica. Pseudociência é assim mesmo!

A questão disso tudo é muito, muito simples: Alegam que feromônios fazem e acontecem. Pois, bem. ONDE ESTÃO essas substâncias ou, melhor: QUE substâncias são essas? à Quais funções químicas elas pertencem? Quais os elementos estão presentes na molécula? Como são suas ligações químicas? Pontos de fusão e ebulição? E as demais constantes físicas? Que diabo de substância é essa que muitos alegam existir, mas sequer sabem se ela é solúvel em água? Ninguém sabe, ninguém viu. É o telefone-sem-fio da Ciência: Alguns dizem que existe, outros rolam a bola pra frente e adicionam mais uns ítens na descrição e por aí vai. O Método Científico é implacável e Popper vai fundo nisso: É reprodutível? Pode ser falseado? Mas, como? Não se sabe nem se essas substâncias possuem isômeros ou quais são as suas constantes. Parece a história do óleo de cobra que curava tudo, no século XIX.

Um dos sérios problemas no tocante aos feromônios diz respeito às complexas forças de comportamentos e estímulos diversos. Sem falar que o olfato em alguns mamíferos não é tão apurado assim, como em nós, seres humanos. Usar perfuminho vai chamar a atenção sim, e de duas formas: Ou se ele for muito, muito caro ou se for muito, muito barato. Entretanto, as reivindicações de publicidade para a existência de feromônios humanos é a sincronia menstrual. Após a exposição a supostos feromônios, os ciclos menstruais de amigos próximos e colegas de sala, acontece uma “sincronização” dos ciclos menstruais. Obviamente, nada de muito científico foi demonstrado. O antropólogo Clyde Wilson, da Universidade do Missouri, Columbia, e o biopsicólogo Jeffrey Schank, da Universidade da Califórnia, Davis, informaram que as análises estatísticas utilizadas em estudos de sincronia menstrual são falhos em muitos aspectos. Também não há qualquer base convincente em termos biológicos ou evolutivos para a sincronia menstrual.

A “feromonologia” tornou-se uma frenologia moderna, fornecendo explicações simples para mentes simples que querem respostas simples para perguntas muito complexas. Mas a enganação é deliciosa quando queremos que ela responda às nossas perguntas, por mais que não respondam nada e nada seja provado. É o simples ato de achar que algo funciona que esse algo funcionará; e é assim que a indústria de cosméticos fatura seus muitos milhões de dólares anualmente.

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