terça-feira, 8 de março de 2011

POLITICAMENTE CORRETO... É O ESCAMBAU!

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA
Postado por Luiz Antonio Simas

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.

Soube dia desses que nas creches e escolas, as crianças não cantam mais 'O cravo brigou com a Rosa'. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo (o homem) e a rosa (a mulher) estimula a violência entre os casais. A nova letra agora é "o cravo encontrou a rosa / debaixo de uma sacada /o cravo ficou feliz / e a rosa ficou encantada".

Mas que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que 'O cravo brigou com a rosa' faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi 'Samba Lelê'. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente / Tá com a cabeça quebrada / Samba Lelê precisava / É de umas boas palmadas.

A palmada na bunda está proibida por incitar à violência contra a menina Lelê. Então, a tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente / Com uma febre malvada /  Assim que a febre passar / A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Também comunico que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música pode despertar nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. E quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter 7 namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém (não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, o Pai Google da Aruanda) foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos 70, coisa de viado.

Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era mesmo vista como coisa de viado. Eu imagino se o meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias, dos vagalumes ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de 'não me toques que me magôo'. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão (o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil) de deficiente vertical; o crioulo (vulgo picolé de asfalto ou bola 7, dependendo do peso) só poderá ser chamado de afrodescendente; o branquelo (o famoso branco azedo ou Omo Total) será um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente; a mulher feia (aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do 5º batalhão de artilharia pesada e também conhecida como o rascunho do mapa do inferno) será apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade; o gordo (outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, baleia assassina e botijão de gás) será o cidadão que está fora do peso ideal; o magricela não poderá mais ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito; o careca não será mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha. E por aí vai...

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderemos mais citar Aleijadinho. Teremos que dizer: o escultor Antônio Francisco Lisboa era portador de necessidades especiais. Ah..., vamos combinar que não dá, né??!!

O politicamente correto também vem gerando a morte dos apelidos (alcunhas), essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e nas Olímpiadas, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra puta que o pariu e o centroavante pereba tomar no rabo, cantaremos nas arquibancadas o allegro da 9ª Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé-na-cova, aquele que já dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro-funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora passou a ser simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser, todos iremos morrer gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do Condomínio da Cidade dos Pés Juntos.

2 comentários:

  1. Ahh Lauro, devo discordar veementemente com o Simas...Não é questão de ser ou não politicamente correto, mas sim o que essas antigas canções de ninar criam no inconsciente coletivo da crianças. A popular mensagem subliminar! Vila Lobos pode ter criado uma infinidade de canções, mas, não somos obrigados a FAZER COM QUE NOSSOS filhos ouçam incitações a violência só para manter a tradição, traço cultural o qual pode ter sido o pivô principal para os casos de divórcio ou promiscuidade na nossa população, ou mesmo, o ódio para com nossos amigos felinos, e à violência doméstica. A criança tem uma capacidade infinitamente melhor de absorver tudo isso..Sou a favor da mudança de tudo isso, pois, como benefício teremos pessoas menos violentas e mais positivas!!
    Bjão

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  2. LAURO, concordo plenamente com voce caro amigo, e vejo com receio todo este movimento que há nos dias de hoje contra a nossa cultura, nossos costumes, tudo em nome deste m... de politicamente correto. Veja bem, hoje já vivemos um regime de exceção, pois há reserva de vagas para afro-descentes, há dia do movimento negro, dia do trabalho, dia do indio e por ai vai. Quando teremos o dia do branco, que não seja o dia normal de trabalho, mas sim feriado nacional, e reservas de vagas para os branquelos de plantão que não tem culpa de ter nascido branco, nem pela historia da civilização. Ora, vivemos sim um regime hipocrita, onde se busca agradar alguns sem se preocupar com o que se esta fazendo com o futuro. E ainda por cima temos que aceitar comentarios como o acima. Sinceramente.

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