Cansada. Cansada deste lugar, de te alugar e de você não gastar um segundo qualquer pra ligar pra esse meu desassossego. Só diz que me entende, que vai passar. Mas eu, não podia mais, cansei. Cansei de não encontrar abrigos, desses meus idealizados. Desses de parar o mundo, o expediente, o trânsito, pra ouvir o outro chorar, apenas.
Cena de cinema? Talvez, mas ainda asim, resolvi partir. Deixo a doçura que ainda existe em mim. A doçura que você não encontraria em qualquer lugar ou outra pessoa que esbarrasse nas esquinas da tua vida. A doçura que você nem sempre encontra na minha língua porque meus sentidos são cítricos e volúveis demais pra te fazer identificar as ternuras raras do meu paladar. Mas sei que ela haveria de lhe faltar, então dentre as coisas que recolhi, deixo ela, a doçura, aqui, no amor, que ainda não passou.
Deixei em forma de flor pra você lembrar de todas as rosas roubadas do muro vizinho, aquelas que costumavas trazer nas mãos em segredo, em suspense para, de surpresa e sorrindo, encaixá-las no meu cabelo, como um gesto fatídico e estrategicamente infalível de dizer "desculpa, por tarde chegar". Pois bem...cansei também de esperar. Por suas cartas, suas palavras, seu grito de fascínio que me fizesse aquietar. Um discurso, um exagero? Cansei de esperar. E esperar, mon amour, é tudo que desobedeci aprender, anos e danos atrás.
Então, com medo de dissabores, que meus temores e angústias são capazes de causar, decidi arriscar voar. Arrisquei o beijo, o jeito, o jeito só meu, só teu, tão nosso e de mais ninguém. Arrisquei nosso manchado título de casal super, ultra, master, mega, "the best in the world" que inventaram sem nossa consulta pra depois maldizerem sem nosso conhecimento. O casal que sai de cartaz mas continua recorde de bilheteria. Sabe? Então, pensei, ensaiei e veja só minha coragem, arrisquei deixar pra lá. Vesti meu figurino de viajante fugaz, fiz meu makeup de desapego e então, ainda no camarim, os espelhos refletiam uma menina destemida e obstinada, preparada.
Repetia o texto: "cansei, vou deixar pra lá". Senti um frio estranho no estômago. Estranho. Muito estranho. Não eram minhas amigas borboletas e nem a tal gastrite advinda da ansiedade, companheira de longas datas. Era um arrependimento em aviso prévio, uma saudade sem tempo hábil pra existir. Era medo. Medo. E flashes dos momentos que sim, nos demos motivos pra ficar, vieram como mensageiros prenunciar uma possível guerra sem fim dentro de mim caso eu desse o passo que decidira dar. Me chamaram de exigente, assim na cara dura. Tornaram nítidos os tantos entretantos que alargam nossos horizontes e lançam fora o hesitar. E quando cheguei ao palco para a grande cena da partida, da menina que resolveu arriscar, eu - até ali intrépida, destemida e decidida - desisti desta coisa de deixar pra lá. Não me aventurei, não me atrevi arriscar. Chamei o medo de amor, te abracei pra nunca mais soltar e cansei.Cansei de atuar.
Autoria: Yohana SanFer
Copiado do Blog Papel, Palavra (cor) Ação! http://yohanadarc.blogspot.com/
http://ditadosereflexoes.blogspot.com/2011/02/eu-cansei.html
Fico surpresa em encontrar meu texto publicado em outros blogs e feliz por saber que agrado! Agradeço a consideração pelos créditos, seja sempre bem vindo! =)
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